Flor

Aula 28/09 | professora Cristina Aledi Felsemburgh

A flor é a sede da reprodução sexuada, responsável por garantir a perpetuação da espécie, apresentando para isso diferentes estratégias em relação à apresentação de seus elementos estruturais. Apesar das variações morfológicas, as flores apresentam alguns caracteres fixos que possibilitam o seu reconhecimento e associação com o grupo botânico a que pertencem.

Partes da Flor

Quando as gemas entram em atividade, elas podem desenvolver ou novo ramos, ou flores ou um conjunto de flores. Uma flor completa é formada pelos seguintes verticilos: perianto (cálice K, corola C) + partes férteis (androceu/estames A, gineceu/pistilo G). Quando a flor não tem alguma dessas partes, ela é considerada incompleta.

A haste chamada pedicelo ou pedúnculo sustenta o receptáculo que sustenta as peças florais.

Sobre o perianto, a parte estéril

  • O perianto é o conjunto do cálice (K), formado pelas sépalas, com a corola (C), formada pelas pétalas. A flor é considerada:
    • Aclamídea (-K, -C): quando não tem sépalas, nem pétalas. Ex: Pimenta-do-reino;
    • Monoclamídea (ou K ou C): quando tem ou só sépalas, ou só pétalas;
    • Diclamídea (K e C): quando possui sépalas e pétalas.
      • Homoclamídea (K = C): cálice e corola são iguais na forma, tamanho e cor, formado por tépalas.
      • Heteroclamídea (K ≠ C): Forma ou tamanho ou cor

Sobre o cálice

Possui função protetora e está constituído pelas sépalas, geralmente verdes. Muitas vezes, são estruturas capazes de aderir ao pêlo de animais para permitir a sua dispersão por longas distâncias.

  • Número de sépalas: determinar
    • Monocotiledôneas são trímeras, ou seja, os verticilos possuem três partes ou múltiplo de três.
    • Eudicotiledôneas possuem geralmente verticilos de 4-5 peças (tetrâmera ou pentâmera) ou múltiplos de 4-5;
  • Dialissépalo “diali”: sépalas livres
  • Gamossépalo “gamo”: sépalas unidas

Sobre a corola

A corola é formada por pétalas, que são geralmente coloridas e maiores que as sépalas. 

  • Número de pétalas: determinar
    • Monocotiledôneas são trímeras, ou seja, os verticilos possuem três partes ou múltiplo de três.
    • Eudicotiledôneas possuem geralmente verticilos de 4-5 peças (tetrâmera ou pentâmera) ou múltiplos de 4-5; 
  • Dialipétalas “diali”: pétalas livres
  • Gamopétalas “gamo”: pétalas unidas
    A forma da corola gamopétala pode ser muito variada: tubulosa, infundibuliforme, campanulada, hipocrateriforme, labiada, ligulada, etc. 

Sobre as partes férteis

Androceu (A):

estames
  • formado pelos estames (filete + antera), onde se forma o pólen. Quando o estame não tem filete, só antera, a antera é séssil.
    • Os estames –ou microsporófilos– podem ser inclusos na flor com corola gamopétala, ficando no interior da corola, ou podem ser exertos, ficando acima da corola. Na dialipétala, eles também podem ser exertos. Os estames podem ser indivisos ou com filetes ramificados. Quanto à concrescência ou soldadura dos estames, ele pode ser dialistêmone quando é formado por estames livres entre si tanto pelas anteras quanto pelos filetes, ou gamostêmone quando os estames unidos entre si pelas anteras e/ou pelos filetes. Quanto à concrescência dos filetes, o androceu pode ser dialistêmone com filetes livres ou gamostêmone com filetes soldados independentemente se as anteras estão livres ou não. São chamados de monadelfos quando os filetes formam um único feixe com um tubo estaminal, sendo soldados entre si; são diadelfos quando os filetes são soldados em dois conjuntos e; são poliadelfos quando os filetes são soldados em vários feixes.

      O número de estames da flor é muito variável. A flor é oligostêmone quando tem menos estames que pétalas, é isostêmone quando o número de estames é igual ao número de pétalas, é diplostêmone quando o número de estames duplica o de pétalas, e é polistêmone quando o número de estames é maior que o dobro de pétalas, com numerosos estames. Flor de jambo.

      O comprimento dos estames é variável em relação ao perianto. Se forem mais curtos que o perianto ficam incluídos nele, e são chamados de inclusos (Tulipa, Agave). Se sobressaem são chamados de exertos (Flor de jambo). Diversos estames do mesmo tamanho são chamados de homodínamos, enquanto estames distribuídos em tamanhos distintos são heterodínamos. Se há 4 estames, 2 menores e 2 maiores são chamados de didínamos, e se há 4 maiores e 2 curtos se denominam tetradínamos.

      A adnação ocorre quando os estames se soldam à corola.

      Os estaminódios são estames estéreis, que cumprem a função de dispositivo de atração ou produzem néctar.

      A antera é a parte fértil do estame. A inserção da antera no filete pode ser pela base da antera (basefixo), pelo meio (mesofixo ou dorsefixo) ou pelo ápice (apicefixa). As anteras podem ser livres em si, ou unidas entre si (sinânteras, sin=unido).

      O número de tecas da antera pode ser um (monoteca), dois (biteca ou diteca) ou quatro (tetrateca). A abertura das tecas para liberar o pólen depois da maturação (deiscência) pode ser por fendas longitudinais (rimosa, mais frequente), por poros (poricida) ou por valvas (valvar).

Gineceu (G) ou pistilo:

  • O gineceu é formado pelos carpelos/ovários (que portam e protegem os óvulos contra a dessecação e ataques de insetos polinizadores), o estilete e o estigma (que recebem o grão de pólen). Quando o gineceu não tem estilete, só estigma, o estigma é séssil.
    • Os carpelos –mega ou macrosporófilos– são as estruturas reprodutoras femininas na flor, geralmente dilatados, típico das angiospermas e neles estão o(s) lóculo(s) em cujo interior se encontram os óvulos. Se os carpelos estão separados, livres entre si, o gineceu é dialicarpelar ou apocárpico; se estão soldados entre si, o gineceu é gamocarpelar ou sincárpico. Na flor dialicarpelar, cada carpelo constitui um pistilo. Neste caso, conta-se o número de pistilos, podendo ser unicarpelar, bicarpelar, tricarpelar, tetracarpelar, pentacarpelar ou pluricarpelar. No gineceu sincárpicoapenas um pistilo. Já nas gimnospermas com estruturas reprodutivas mais arcaicas, os óvulos são expostos e desnudos, não havendo cavidade ovariana, nem diferenciação entre o estilete e o estigma. Cada carpelo pode ter um ou mais lóculos, cavidade no interior onde se localizam as sementes, sendo unilocular, bilocular, trilocular, tetralocular, pentalocular ou plurilocular. Cada lóculo pode ter um ou mais óvulos, sendo uniovulado, biovulado, triovulado, tetraovulado, pentaovulado ou pluriovulado. Quanto à placentação, sendo a placenta o tecido que prende o óvulo ao ovário, tem-se placentação parietal quando os óvulos estão aderidos à parede do ovário; tem-se placentação central quando os óvulos estão no eixo central do ovário; tem-se placentação axial quando o ovário é gamocarpelar com mais de um lóculo e os óvulos estão no eixo central do ovário; tem-se placentação apical ou pêndula quando os óvulos estão na região apical do lóculo; tem-se placentação basal ou ereta quando os óvulos estão na base do lóculo; e tem-se placentação marginal quando os óvulos estão ao longo da margem do carpelo.

      O hipanto é uma estrutura que circunda o ovário e pode ter origem receptacular ou apendicular.

      O ginóforo é o prolongamento do eixo floral que eleva o gineceu acima dos demais verticilos florais. O androginóforo é o prolongamento que eleva o androceu e o gineceu.

      Quanto à posição relativa do carpelo na flor, geralmente no receptáculo discóide ou plano temos uma flor hipógina com ovário súpero. Nas flores com receptáculo na forma mais côncova, podemos ter a flor perígina com o ovário semi-ínfero (parcialmente soldado ao receptáculo). Nas flores em forma de tubo, geralmente o gineceu fica totalmente imerso e classificamos a flor como epígina com o ovário ínfero (aderido ao hipanto em um nível inferior aos demais verticelos).

      O estilete é a parte estéril e estreita que liga o ovário ao estigma, suportando o estigma. Seu comprimento varia entre menos de 0.5mm até 30cm (variedades de milho). Geralmente, nasce no ápice do ovário sendo classificado como estilete terminal, mas pode se originar na lateral sendo chamado de estilete lateral ou pode se originar na base sendo chamado de estile gimnobásico.

      O estigma possui um tecido glandular especializado para receber grãos de pólen. Nele também se encontram proteínas hidrofílicas na parede externa, que se acredita atuar no reconhecimento do pólen adequado e nas reações de incompatibilidades, depositando calose para deter a germinação do pólen estranho. Os estigmas podem ser divididos em 2 grandes grupos: estigmas úmidos são aqueles que tem secreção durante o período receptivo, e estigmas secos não possuem secreções líquidas, mas produzem proteínas ou ceras.

Quanto ao sexo da flor

É um ramo altamente modificado, com folhas estéreis e folhas férteis.

  • Estéril (-A e -G): sem o androceu e sem o gineceu, a flor só possui o perianto (cálice e corola);
  • Monóclina (A e G): hermafrodita ou bissexuada, com o androceu e com o gineceu;
  • Díclina masculina (+A e -G): unissexuada, só com o androceu;
  • Díclina feminina (-A e +G): unissexuada, só com o gineceu.

Quanto ao sexo da planta

  • Polígama: flores monóclinas e díclinas em um mesmo indivíduo
  • Monóice: flores unissexuais (G) e (A) na mesma planta
  • Hemafrodita: flor com (A) e (G)
  • Dióica: planta com flores (A) e com flores (G)

Prefloração: como são os botões

Posição das peças do cálice e da corola no botão floral

  • Quincuncial (A): duas peças internas, duas externas
  • Contorta (B): torcida
  • Imbricada (C): as peças se sobrepõem; uma peça externa vizinha à interna
  • Valvar (E): as peças florais apenas se tocam
  • Aberta (F): as peças florais não se tocam

Sobre os planos de simetria floral da corola de flores cíclicas

Nas flores de uma maneira geral as peças podem estar dispostas de duas maneiras: disposição espiralada: quando as peças se inserem em diferentes níveis ou disposição verticilada ou cíclica.

  • Actinomorfa: Vários planos simétricos passando por seu eixo. Todas as pétalas são iguais entre si. Ex: tulipa
  • Zigomorfa: Apresenta somente um único plano de simetria passando por seu eixo, dividindo-a em duas metades simétricas. Uma pétala é bem diferente e as demais são iguais entre si ou duas a duas. Exemplo: Leguminosae, Bignoniaceae. O pedicelo ou o ovário podem sofrer uma torção de 180°, invertendo a flor. Este fenômeno é denominado ressupinação. Ex: Orchidaceae.
  • Assimétrica: As pétalas são bem diferentes entre si, não tendo planos de simetria por redução (perda) de peças, ou mudança de posição (Canna, Marantha).

A forma da corola gamopétala pode ser:

  • Tubulosa: cilíndrica, como nas flores centrais dos capítulos da fa- mília Compositae.
  • Infundibuliforme: tipo de corola com pétalas fundidas em tubo que se alarga gradualmente da base para o ápice, como um funil (Ipomoea).
  • Campanulada: tubo inflado, semelhante a uma campanhia (Brachychiton, Convallaria).
  • Hipocrateriforme: tubo largo e delgado, limbo plano (Jazminum, Nierembergia).
  • Labiada: limbo com dos segmentos desiguais (Salvia splendens).
  • Ligulada: o limbo tem forma de lingueta. Este tipo de corola está presentes nas flores periféricas das Compositae.

Questões da apostila de atividades práticas da disciplina (pág 23-26):

  1. Caracterize a flor comestível de nome chanana (Turnera subulata), também conhecida como Bom dia, muito comum na nossa região.
    A flor é completa, tendo o cálice (K) e corola (C) no perianto e, nas partes férteis, apresenta o androceu (a) e o gineceu (C). Por ter calíce e corola, a flor é classificada como diclamídea. Como o K e o C são diferentes ela é considerada heteroclamídea. Quanto à simetria das pétalas na corola a flor é considerada actinomorfa, com vários planos simétricos passando por seu eixo. A soldadura das sépalas do cálice é considerada dialissépala, com sépalas livres. A soldadura das pétalas na corola é considerada dialipétala, com pétalas livres. A corola tem cinco pétalas e por isso é uma flor pentâmera.
    Sobre as partes férteis, em relação ao androceu, a concrescência ou soldadura dos estames é dialistêmone, sendo formado por estames livres entre si tanto pelas anteras quanto pelos filetes. Quanto à inserção dos estames, são inclusos, ficando dentro da corola. É isostêmone, porque o número de estames é igual ao número de pétalas. O androceu possui cinco estaminódios. Quanto à concrescência dos filetes, é classificado como dialistêmone com filetes livres e ramificado. As anteras são livres de basefixa com monotecas de deiscência (abertura das tecas) rimosa. Em relação ao gineceu, é uma flor hipógina pois o ovário é súpero com 3 carpelos de 1 lóculo cada. A placentação é pareental. Quanto ao sexo da flor, ela é monóclina porque contem o androceu e o gineceu. Já em relação ao sexo da planta, ela é polígama com flores monóclinas e díclinas (só masculina ou só feminina) em um mesmo indivíduo.
Saiba mais:

Aula – Flor: https://bit.ly/3CoRfsD

Morfologia_da_flor

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